Funções de uma variável

Semana 11

Funções de uma variávelSemana 11Comprimento do ArcoExemplo Função Comprimentod e arcoExemploSuperfícies de RevoluçãoExemploVolumes por FatiamentoExemploSólidos de RevoluçãoVolume por Camadas CilíndricasExemplo

Comprimento do Arco

Gostaríamos de estabelecer, usando as técnicas que vimos até agora, uma forma de medir o comprimento de uma curva. Como poderíamos fazer isso? A pricípio, poderíamos pensar em usar um pedaço de barbante sobre a curva e então medir o comprimento do barbante. Mas além de pouco preciso, isso não é nada prático. Especialmente se estivermos lidando com uma curva complicada. Veremos agora uma forma de definir o comprimento de arco de uma curva de maneira precisa.

Se a curva é uma poligonal, podemos facilmente encontrar seu comprimento; apenas somamos os comprimentos dos segmentos de reta que formam a poligonal. Seguindo esta ideia, iremos definir o comprimento de uma curva geral primeiro aproximando-a por uma poligonal e, então, tomando o limite quando o número de segmentos da poligonal aumenta.

Dada uma curva definida pela equação (onde é continua no intervalo e diferenciável no intervalo ), dividimos o intervalo em subintervalos com extremos e com larguras iguais a . Desta forma, se então o ponto está na curva e a poligonal com vértices (ilustrada na figura abaixo) é uma aproximação para .

 

A aproximação do comprimento da curva pela poligonal fica cada vez melhor a medida que aumenta (veja a animação abaixo).

Definição

O comprimento L da curva C com equação , , é o limite da soma dos comprimentos das poligonais que aproximam , de modo que:

Se o limite existir.

Reescrevendo a expressão acima obtemos

A definição de comprimento de arco que acabamos de ver não é muito conveniente para propósitos computacionais, mas podemos deduzir uma fórmula envolvendo uma integral para encontrar , no caso em que tem uma derivada contínua. [Essa função é chamada lisa, porque uma pequena mudança em produz uma pequena mudança em .] Se tomarmos , então usando o Teorema do valor Médio (Seção 2.2 das notas da semana 4) no intervalo , sabemos que existe , tal que

Desta forma,

Emfim, podemos enunciar o seguinte resultado:

Proposição: Fórmula do comprimento de arco

Se for uma função contínua em , então o comprimento da curva é dado por

Observemos que se a função é dada como , , basta trocar e na fórmula acima. Ou seja:

 

Exemplo

Calcule o comprimento de arco da curva dada.

  1. .
  2. .

Soluções:

  1. Como , então . Assim,

Então

  1. Como , então e Contudo,

    Então,

Função Comprimentod e arco

É útil termos uma função que meça o comprimento de arco de uma curva a partir de um ponto fixo inicial até outro ponto qualquer na curva. Deste modo, se a curva tem equação , , seja a distância ao longo de do ponto inicial ao ponto . Então, é uma função, chamada função comprimento de arco, e é dada por

Exemplo

Encontre a função comprimento de no intervalo .

Solução: Se então e . Logo

Neste exemplo, por que é importante que ?

Exercício

Considere a função definida para

1.Verifique que é da forma em que e são polinômios de segundo grau.

  1. Verifique que em que e são constantes.
  2. Calcule o comprimento de arco da função

 

Superfícies de Revolução

Uma superfície de revolução é uma superfície gerada pela rotação de uma curva plana em torno de um eixo que se situa no mesmo plano da curva. Por exemplo, a superfície lateral de um cilindro circular reto pode ser gerada pela rotação de um segmento de reta em torno de um eixo paralelo a ele. Analogamente, a superfície de um tronco de cone pode ser gerada ao se fazer girar um segmento de reta em torno de um eixo contido no plano do segmento, como abaixo1.

Vamos agora determinar uma forma de calcular a área de superfícies desse tipo. Denominaremos esse como o Problema da Área de Superfícies.

Problema da Área de Superfícies

Suponha que seja uma função lisa e não negativa em e que uma superfície de revolução seja gerada pela rotação da parte da curva entre e em torno do eixo (como na imagem acima). Como podemos definir a área dessa superfície? Como podemos calculá-la?

A estratégia para estabelecer uma definição apropriada para área de uma superfície de revolução é similar à que usamos para definir integrais. Vamos decompor a superfície em pequenas seções cujas áreas possam ser aproximadas por objetos geométricos elementares, e, somando as aproximações das áreas dessas seções, obteremos uma soma de Riemann que aproxima a área desejada. Tomando o limite da soma de Riemann obteremos uma integral para o valor exato da área da superfície. Para implementar essa ideia, vamos dividir o intervalo em subintervalos, inserindo os pontos entre e . Assim como vimos na semana 10, os pontos correspondentes do gráfico de definem um caminho poligonal que aproxima a curva acima do intervalo . Quando esse caminho poligonal gira em torno do eixo , gera uma superfície que consiste em partes, cada uma delas sendo um tronco de cone circular reto (ver figura abaixo).

 

Assim, a área de cada parte da superfície pode ser obtida a partir da a área da superfície de um tronco de cone com raios e comprimento lateral (geratriz) , dada por

O -ésimo tronco de cone terá raios e e altura . Seu comprimento lateral é dado por , que é o comprimento do -ésimo segmento de reta da poligonal que aproxima a curva. Como vimos na seção anterior, isso resulta em

Assim, a área lateral do -ésimo tronco de cone será dada por

Somando todas essas áreas obtemos uma aproximação para a área da superfície ,

A próxima etapa é transformar essa expressão em uma soma de Riemman. Para isso vamos aplicar o Teorema do Valor Médio (Seção 2.2 das notas da semana 4). O teorema garante a existência de um ponto entre e , tal que

Por outro lado, a continuidade de e o Teorema do Valor Intermediário (que foi estudado na disciplina Bases Matemáticas) garantem a existência de um ponto entre e , de tal modo que

Substituindo esses dois resultados na expressão para a aproximação da área, segue

Embora esteja próxima, a última expressão não é exatamente uma soma de Riemann verdadeira, pois envolve duas grandezas distintas, e , que fazem o papel de pontos amostrais. Entretanto, em cursos mais avançados pode-se provar que, devido à continuidade de , isso não tem nenhum efeito sobre o limite. Desse modo, podemos supor que ao tomar o limite. Com isso obtemos uma expressão para a área da superfície ,

A animação abaixo ilustra a "suavização" da superfície ao se aumentar a quantidade de subdivisões do intervalo e consequentemente a melhor aproximação com mais laterais de troncos de cone.

Definição

Se for uma função suave (multiplamente diferenciável) e não negativa em , então a área da superfície de revolução gerada pela rotação da parte da curva entre e em torno do eixo será definida por

Se for invertível e diferenciável, então podemos obter como e construir uma superfície de revolução em torno de . Nesse caso a área da superfície pode ser expressa como

Note a semelhança, não por acaso, entre a expressão acima e a que foi obtida para o comprimento de arco de curvas.

Exemplo

Vamos determinar a área da superfície gerada pela rotação da parte da curva determinada por entre e ,

em torno do eixo .

Para determinar a área da superfície de revolução precisamos calcular a integral

com , e os limites de integração e . Sabemos que , logo o integrando pode ser escrito como

Voltando à integral,

A superfície abaixo representa o sólido de revolução formado a partir de . A faixa laranja representa uma das laterais de tronco de cone utilizadas para construir a soma de Riemann, com e .

Exercícios

  1. Calcule a área das superfícies de revolução das funções abaixo.

    a. ;

    b. ;

    c. Veja a superfície nesse link.

  2. Mostre que a área da superfície de uma esfera de raio é . Dica: Gire o semicírculo em torno do eixo e escolha os limites de integração adequados.

  3. Mostre que a área de superfície lateral de um cone circular reto de altura e raio de base é .

Volumes por Fatiamento

Veremos agora que a mesma estratégia de dividir regiões em intervalos pode ser usada para encontrar o volume de sólidos. A ideia é dividir o sólido em fatias finas, aproximar o volume de cada fatia, somar as aproximações para formar uma soma de Riemann e passar ao limite para produzir uma integral para o volume. O fato importante aqui é que as fatias finas devem ter seções transversais que não variam muito nem em tamanho nem em forma, isso nos permite calcular a área dessas seções.

Conhecendo a área das seções transversais, seu volume será dado por

onde é a largura de cada partição. Podemos então estabelecer o seguinte problema.

Problema do Volume de Sólidos

Seja um sólido que se estende ao longo do eixo e que é limitado à esquerda e à direita, respectivamente, pelos planos perpendiculares ao eixo em e . Queremos determinar o volume do sólido, supondo que sua seção transversal tenha área , conhecida em cada ponto do intervalo .

Para resolver esse problema, dividimos o intervalo em subintervalos de espessura , consequentemente o sólido também será dividido em fatias de espessura . Somando essas aproximações, obtemos a seguinte soma de Riemann que aproxima o volume

Tomando o limite quando cresce e as espessuras dos subintervalos tendem a zero, obtemos a integral definida

Em palavras, esse resultado afirma que o volume de um sólido pode ser obtido integrando-se a área da seção transversal de um extremo ao outro do sólido.

Exemplo

Encontre o volume de uma pirâmide com base quadrada de comprimento lateral de 10 u.m. (unidade de medida) e altura de 5 u.m.

Como cada seção transversal da pirâmide é um quadrado, para determinar sua área , precisamos apenas determinar os lados desses quadrados em termos da distância até o topo da pirâmide.

Para determinar os lados desses quadrados, podemos tomar uma seção transversal paralela ao eixo e que passa pelo eixo . A interseção dessa seção com a superfície da pirâmide é descrita pelas retas (se convença disso!). Logo, cada quadrado tem lado , e assim a área das seções transversais é . Com isso obtemos

Exercício

Use o método de volumes por fatiamento para mostrar que o volume de uma esfera de raio é .

Dica: Você pode fatiar a esfera como ilustrado nesse link., basta encontrar os raios dos discos.

Sólidos de Revolução

Um sólido de revolução é um sólido gerado pela rotação de uma região plana em torno de uma reta que está no mesmo plano da região. Podemos determinar volumes de sólidos de revolução combinando a técnica de fatiamento com o que vimos sobre superfícies de revolução. Para isso, observamos que a seção transversal do sólido, tomada perpendicularmente ao eixo , no ponto é um disco de raio . A área dessa região é

Assim, o volume de sólido é então

Se, ao formar o sólido de revolução, considerarmos a área entre curvas, como vimos nas notas de aula da semana 8. Então, ao invés de um disco, a seção transversal será uma arruela, e região o volume será dado por

Exercício

Determine a área da superfície e o volume do solido de revolução gerado pela região entre as curvas e . Para isso, primeiro determine onde essas curvas se intersectam, que coincide com os limites da região que gera o sólido. Você pode ver o objeto geométrico gerado pela revolução nesse link.

Dica: Para calcular a área da superfície de revolução você terá que integrar a função , cujo resultado é

Para calcular essa integral você terá que combinar diferentes técnicas de integração vistas nas semanas 9 e 10.

Volume por Camadas Cilíndricas

O método para cálculo de volume que acabamos de discutir depende de nossa habilidade em computar a área da seção transversal de um sólido e integrá-la através dele. Nesta seção, vamos desenvolver outro método para encontrar volumes que pode ser aplicado quando não pudermos encontrar um expressão simples e geral para a área da seção transversão. A motivação vem do seguinte problema:

Volume de Sólidos II

Sejam contínua e não negativa em e a região limitada acima por , abaixo pelo eixo e nas laterais pelas retas e . Queremos determinar o volume do sólido de revolução gerado pela rotação da região em torno do eixo .

Obs: O fato importante aqui não é a rotação em torno do eixo , e sim que a curva pode ser complicada o suficiente para que não possamos encontrar diretamente uma expressão para a área sob ela.

Uma camada cilíndrica é um sólido envolvido por dois cilindros retos concêntricos.

O volume de uma camada cilíndrica com raio interno , raio externo e altura pode ser escrito como

onde é o raio médio da camada e sua espessura. A ideia agora é dividir o intervalo em subintervalos e, desse modo, subdividir a região em faixas, . Quando a região gira em torno do eixo essas faixas geram os sólidos , alinhados um dentro do outro, e que podem ser aproximados por camadas cilíndricas.

Assim, o volume do sólido pode ser aproximado somando os volumes das camadas. Isto é,

Para transformar esse volume em uma soma de Riemann, vamos supor que a -ésima camada tenha raio interno e raio externo . Logo sua espessura será dada por . Se for o ponto médio do intervalo e se construirmos um retângulo de altura acima desse intervalo, então, fazendo esse retângulo girar em torno do eixo , obtemos uma camada cilíndrica de altura , raio médio e espessura . Usando a expressão que obtivemos para o volume de camadas cilíndricas, o volume da camada será dado por

Somando os volumes das camadas cilíndricas, obtemos finalmente soma de Riemann que aproxima o volume

Tomando o limite quando obtemos a integral definida

Exemplo

Vamos determinar a o volume do sólido delimitado por , no intervalo entre e .

Usando a expressão para o volume acima, obtemos

Resolvemos essa integral usando o método de integração por partes (verifique!), que resulta em

O sólido é dado abaixo

Exercício

  1. Use o método de camadas cilíndricas para encontrar o volume do sólido que resulta quando a região sombreada gira em torno do eixo indicado.

  1. Use o método de camadas cilíndricas para encontrar o volume do sólido que resulta quando a região englobada pelas curvas gira em torno do eixo .

a.

b.

c.

d.

e.


1 Para interagir com a superfície, clique e arraste com o mouse para mudar o ângulo de visão e use o scroll pra controlar o zoom. Você também pode pausar ou alterar a velocidade da animação usando os controles da parte superior.